Neste fim de semana, aproveitei o momento de descanso para assistir ao filme “Dumplin”, da Netflix. Confesso que fiz minha escolha de forma desavisada, sem nem imaginar a temática da obra, e terminei completamente maravilhada – razão pela qual decidi compartilhar esta sugestão com vocês.
Em primeiro lugar – caso, assim como eu, você também não saiba –, o filme é baseado num livro de mesmo nome que conta a história de uma adolescente e seus conflitos com a mãe. A jovem protagonista enfrenta o luto após a morte da tia, alguém que lhe servia de referência; por sua vez, a mãe resiste a entrar em contato com a dor causada pela perda da irmã.
Mas, não se engane: Dumplin não é um filme sobre lutos ou perdas e, sim, sobre autoestima, amor-próprio e autoimagem. Isso porque, num ato de rebeldia, a jovem adolescente decide se inscrever num concurso de beleza que tem, à frente, nada menos que sua própria mãe (ex-vencedora do mesmo concurso). E, então, o que seria uma situação de confronto familiar iminente acaba se transformando numa chance de aprendizado para ambas.
Bem, mesmo que você ainda não tenha assistido, hoje, quero lhe dizer por que é que essa história é tão inspiradora e por que ela pode, inclusive, lhe trazer importantes ganhos na sua relação consigo mesmo(a) ou com suas pessoas queridas (principalmente se, assim como eu, você for mãe ou pai de um adolescente!). Vamos lá?
O que mais me chamou a atenção em “Dumplin” foi sua abordagem sutil e, ao mesmo tempo, pragmática quanto à construção da autoestima, do amor-próprio e da autoimagem. A começar pela mãe, uma ex-miss que se dedica a organizar o concurso no qual se sobressaiu por diversas vezes, além de receber, treinar e avaliar cada uma das jovens participantes inscritas. Tão comprometida que está com essa função, a personagem vai além e impõe, a si mesma, as estritas regras comuns ao universo da beleza (principalmente a magreza).
A filha, por sua vez, enfrenta os dilemas da adolescência e se acredita inferior por estar acima do peso. É claro que a autoimagem problemática acaba reforçada pelo entorno – afinal, como bem sabemos, o bullying é uma triste realidade que atinge com pesar muitos daqueles que estão fora de um determinado padrão.
A maneira como esse conflito se estabelece, por si só, já faz o filme valer a pena, porque retrata muito bem um traço muito comum da dinâmica familiar: muitos filhos rejeitam os valores e crenças dos pais apenas porque, inconscientemente, estão em busca de seu amor, como bem explica a Síndrome do Amor Negativo (teoria que dá base ao Processo Hoffman).
Na verdade, de acordo com a metodologia Hoffman, absolutamente todos nós estamos suscetíveis a esta dinâmica. Sim, o que a Síndrome afirma é que todos nós, sem exceção, aprendemos na infância os comportamentos que nos são comuns até hoje. Ao observar como eram e como agiam nossos pais ou substitutos, passamos a reproduzi-los simplesmente porque acreditávamos que aquela ‘forma de ser’ era o único caminho possível para dar e receber amor. Esse aprendizado ficou incutido em nosso inconsciente, introjetado em nossa memória emocional.
Talvez, você esteja dizendo agora: “não, eu nunca tive nada a ver com meus pais”. Infelizmente, preciso lhe alertar: enquanto não estivermos conscientes, o aprendizado continua a se refletir nas nossas atitudes e posturas, tanto positivas como negativas – ou seja, podemos adotar ou rejeitar por completo o que ensinaram nossos pais e, ainda assim, estaremos honrando suas existências e lições. E o fazemos desde a infância simplesmente porque queríamos obter, deles, amor.
É o que acontece na dinâmica familiar de “Dumplin”: enquanto a mãe é absolutamente devota aos rígidos padrões estéticos impostos pelo universo da beleza, a filha rejeita, crítica e até satiriza este mesmo universo. No entanto, ao menosprezar com tanta veemência os valores e crenças de sua mãe, ela apenas reforça, para si mesma e de maneira inconsciente, o quanto é indigna de receber amor –afinal, em sua crença infantil, o amor de sua mãe é condicionado a que se atenda a esses padrões estéticos, principalmente o da magreza.
Como melhorar a autoestima, o amor-próprio e a autoimagem
Pelas salas de aula do Processo Hoffman, todos os anos passam centenas de alunos e eu posso lhe garantir que 99% deles sofrem com a falta de autoestima e de amor-próprio, além da autoimagem distorcida. E isso acontece porque, infelizmente, estamos perpetuando essas crenças e comportamentos em nossas famílias, de geração para geração.
É verdade, sim, que há uma imposição estética arraigada no inconsciente coletivo que nos faz diferenciar o “feio” do “bonito”, o “gordo” do “magro”, o “novo” do “velho”, e assim por diante. Mas não é só isso. Para além desta já sofrível referência, temos determinado, para nós mesmos, padrões quase sempre impossíveis de serem atendidos. Queremos ser magros, jovens, esbeltos, fortes, saudáveis, e queremos manter todo este vigor para sempre; queremos ser perfeitos, sem perceber que a perfeição simplesmente não existe.
Bem, e como acabei de lhe contar, agora você já sabe o que acontece quando não atendemos aos padrões que achamos que deveríamos alcançar: além de frustração, nós temos certeza de que isso nos torna indignos de receber amor. E quanto mais indignos nos sentimos, mais cruéis nossas autopunições se tornam. Por exemplo, será que você já se olhou no espelho e disse:
“Você está gordo(a) e, por isso, não arruma um(a) parceiro(a)”
“Você envelheceu e, por isso, ninguém se interessa por você”
“Você é burro(a) e ninguém se importa com suas opiniões”
“Você é fraco(a) e, por isso, não conseguirá nada do que desejar”
É uma pena, mas, sim: nunca conheci alguém que não tenha dito isso sobre si mesmo(a) e para si mesmo(a). E a única maneira de interromper esse círculo vicioso de autocrítica e de autopunição é a partir da Autoconsciência que transforma a autoimagem, fortalece a autoestima e leva ao amor-próprio.
Em “Dumplin”, ambas as personagens passam por um lindo processo de autoapropriação. Mãe e filha se percebem com mais profundidade, reconhecem as nuances de suas próprias histórias e, enfim, dão passos largos em direção à autoaceitação ao assumir, para si mesmas, que erros e acertos fazem e farão parte de suas trajetórias.
O mesmo deve acontecer na vida real se quisermos alcançar esse novo lugar, onde há mais plenitude, paz de espírito e bem-estar.
A melhor autoimagem é aquela que faz com que você se sinta bem a seu próprio respeito, independentemente das características que gostaria de mudar (e que trabalha para mudar) a seu próprio respeito.
A grande autoestima é aquela que está referenciada internamente, em quem você já foi e em quem você tem se tornado graças ao seu próprio esforço, sem comparações com nada que lhe é externo – afinal, você é um ser único(a) e, eu lhe prometo, incomparável! Não há mais ninguém como você.
O verdadeiro amor-próprio é aquele que perdoa os próprios erros e comemora as próprias conquistas. Eu também lhe garanto que este é o único amor incondicional que você experimentará na vida, então, comece agora mesmo. Dê um basta na vitimização e na autocrítica que somente fazem com que se sinta mal a seu próprio respeito; olhe-se no espelho e mude o seu discurso.
O meu pedido é para que você se veja por inteiro e se ame por inteiro.
Com todas as possíveis imperfeições, o seu corpo é divino e é o único que você tem.
Com todos os machucados e dores a que já “sobreviveu”, o seu coração é resiliente, amoroso e poderoso.
E todas as marcas de expressão que, hoje, estão estampadas no seu rosto revelam importantes momentos da sua trajetória; então, que bom que elas estão aí, sinal de que você viveu muito e viveu grande!
Dê, a si, o valor que merece e alimente este amor.
Aliás, esse também é o passo para transformar suas relações. Se você é mãe ou pai, lembre-se que seus filhos aprendem por cópia e repetição; assim sendo, o seu amor-próprio pode lhes dar de referência mais saudável!
Bem, espero que tenha gostado e que aceite minhas sugestões.