Quero te contar um segredo importante: você só vai conseguir lidar de forma mais positiva com o que sente se exercitar sua capacidade de perdoar – a si próprio e ao outro.
Como você reage quando alguém faz algo que te prejudica? Tenta compreender essa atitude ou logo já se sente motivado a ver essa pessoa pagar de alguma forma?
E quando você mesmo faz algo do qual se arrepende ou não gosta? Também procura entender o porquê de agir assim ou se autocritica e até se autopune?
Bem, caso você tenha respondido a segunda opção, talvez seja a hora de rever como tem trabalhado o perdão.
Sempre digo que ter competência para perdoar é uma questão de inteligência, por um simples motivo: a habilidade de absolver influencia o seu bem-estar. E, como efeito cascata, auxilia a gerar novas decisões e comportamentos, além de promover maior abertura para a criatividade, em suma, para gerar novos pontos de vista e ideias.
A ação de perdoar é tão sua quanto a raiva que você sente e as mágoas que você guarda. Logo, não é possível seguir em frente sem praticar o perdão, que será a principal chave para a conquista de uma revolução emocional e pessoal.
E perdoar se torna uma prática ainda mais poderosa quando levamos em consideração os nossos próprios erros. Para agirmos na vida de forma diferente e conquistarmos melhores resultados, precisamos revisar o nosso passado, ou seja, ganhar consciência sobre em que momento e como aprendemos determinados padrões de comportamentos (emoções e atitudes). Padrões, aliás, que vamos repetindo ao longo da nossa vida, por vezes sem perceber. O que pode parecer simples, mas, acredite, acaba se tornando um processo difícil para muitas pessoas. E por quê?
Justamente porque nos acostumamos a estar no “automático”. Então, o exercício é: procure relembrar, e lá na sua infância (pois é nesta fase que você desenvolve o aprendizado emocional), como agiam seus pais (ou cuidadores)? Como se relacionavam entre si? Como se relacionavam com você?
Estas experiências criaram sua percepção e internalização emocional. Então, muito provavelmente, você repete padrões de seus pais ou pode ir totalmente para o lado oposto, repelindo-os. Por exemplo, eu tive um pai muito autoritário e, impulsivamente, levei esse ‘jeitão’ para meus relacionamentos. Quando menos percebia, no final das contas, estava usando este padrão e magoando meu parceiro e a mim mesma. Se tivesse ido para o lado totalmente oposto, seria uma pessoa submissa.
Precisei de um caminho para aprender mais sobre mim e como havia me tornado assim e esta chave foi fun-da-men-tal para eu começar a mudar o rumo de meus comportamentos e me sentir melhor comigo mesma e em minhas relações.
Essa análise, invariavelmente, nos leva a refletir sobre o papel dos nossos pais. Eles possuem uma parcela de responsabilidade na maneira como agimos, como mencionei, afinal, foram nossos principais influenciadores no desenvolvimento emocional (isso se dá de maneira natural e inconsciente), e esse jeito pode ser danoso para nós mesmos.
Perdoar, no entanto, é um exercício. Você não vai conseguir remover as culpas do dia para a noite. Precisará rever a sua história, rever a trajetória dos seus pais e, aos poucos, compreender que todas as decisões, caminhos e escolhas do passado foram bem-intencionadas – ainda que tenham dado errado.
E por que isso é importante para o relacionamento a dois?
Com o perdão podemos zerar nossas contas emocionais e vivermos uma renovação constante na relação. Quando acumulamos mágoas, raivas e ressentimentos, também acumulamos impossibilidades de mudança.
Nós defenderemos a ideia de que o outro é que tem que mudar, que esse relacionamento/parceiro não tem jeito etc. O perdão só é possível quando nos responsabilizamos por nós e pelo que estamos sentindo. Quando sinto raiva, ela é minha, assim como o perdão, a compreensão e o amor.
No relacionamento amoroso, devemos escolher o amor – a começar pelo amor-próprio. Mudança que vem de dentro promove um relacionamento forte, duradouro e estável.
No entanto, nosso aprendizado foi o de olhar para o outro, o que nos leva a acreditar que é responsabilidade dele mudar na relação. Afinal, ele nos magoou, feriu, abandonou, desprezou etc. Como consequência, muitas vezes, oferecemos nosso perdão para, em seguida, cobrar, exigir e nos sentir credores de diferentes comportamentos do outro porque o perdoamos. Ou seja, o outro fez, eu o perdoo, mas ele tem que pagar. O sentimento de vingança acaba prevalecendo sobre o perdão.
O trabalho do perdão requer que você reconheça e se aproprie da sua humanidade, de todo o seu bem e de todo o seu mal. Assumir suas imperfeições é, essencialmente, uma forma de compreender a si mesmo diante da perspectiva de que nem todas as suas escolhas renderão bons frutos. E se isso se aplica a você, por que não se aplicaria ao outro?
Em outras palavras, quando pensamos na história do outro a partir desse novo ponto de vista, de que ele é igualmente imperfeito, ganhamos a chance de compreendê-lo, perdoá-lo e, ainda, perdoar a nós mesmos por nossos próprios erros cometidos em relação a nós e/ou a ele.
No momento em que você começar a enxergar todos ao seu redor como semelhantes, pessoas sujeitas a falhas e também vítimas em algumas situações, é possível sentir compaixão por elas. E, quando existe a compaixão, há também igualdade.
Quando conquistamos essa clareza sobre nossos comportamentos, temos a oportunidade de escolher diferente, caminhar em outras direções e criar maneiras de ser e agir mais positivas e benéficas.
Quando você chegar a esse nível de Autoconhecimento, terá a sensação de liberdade e será capaz de se libertar das amarras que o deixam preso aos erros do passado.
Autoconhecimento para conhecer o seu “eu” por inteiro e, depois, reconhecer no outro a beleza de ser o que ele é – não o que queremos que ele seja.