Aqui vai uma das maiores crenças populares sobre relacionamentos amorosos: a ideia de que os opostos se atraem! Você mesmo(a) já deve ter ouvido por aí que são justamente essas pessoas, aquelas completamente diferentes entre si, as que ficam juntas no final e até o final. Bem… Infelizmente, preciso lhe contar que isso não passa de mito.
É claro que pessoas bastante diferentes são, sim, capazes de estabelecer relações equilibradas. Afinal, quando respeitadas e compreendidas, as diferenças tendem a agregar ao casal – e não provocar rupturas ou desentendimentos. No entanto, se esses dois opostos que se atraíram estão em constante conflito e sofrimento, vale a pena que cada um deles resgate sua própria história e busque a origem dos comportamentos que lhes causam tristeza.
Digo isso porque o interesse por alguém que é, aparentemente, o nosso extremo oposto pode nascer daquilo que absorvemos na infância. Veja a história de um ex-aluno que participou do Processo Hoffman tempos atrás. Ele se lembrava com clareza do relacionamento de seus pais, que, durante sua infância, estavam sempre em conflito, sempre em pé de guerra. Esse rapaz chegou à fase adulta com essa lembrança e, por isso, nutriu grande desejo de vivenciar um relacionamento mais estável e sem qualquer tipo de discussão – afinal, havia sofrido com o que viu na infância.
Mas, ao contrário, acabou se casando com uma moça do tipo “pavio curto”, que não levava desaforo para casa. Chegou ao treinamento com uma queixa: por mais que tivesse tentado fazer diferente de seus pais, também se via num relacionamento conflituoso similar ao de seus pais.
Ainda que esse rapaz acreditasse e entendesse, racionalmente, que discussões fervorosas causam sofrimento e mágoas, emocionalmente, ele carregava a noção contrária: se seus pais se amavam e tanto discutiam, brigar e amar só podem ser sinônimos, não é mesmo?
Este, como disse, é só um exemplo de como as experiências da infância podem nos levar a vivenciar algo que parece fugir ou estar em desacordo com o que acreditamos, buscamos e desejamos para nossas vidas. E, porque tudo isso se dá de maneira consciente, somente quando alinhamos nosso intelecto e emoção, conseguimos identificar qual aprendizado infantil atrapalha a nossa evolução individual. Daí, só daí, teremos condições de fazer mais e melhor pela relação.
Ou seja, só quando tivermos autoconsciência do que vivemos no passado é que poderemos nos ajustar para solucionar os aspectos que causam conflitos no presente e no futuro – ou, ainda, atrair, para perto, tipos de personalidade mais condizentes com o que de fato queremos e somos.
É claro que pessoas bastante diferentes são, sim, capazes de estabelecer relações equilibradas. Afinal, quando respeitadas e compreendidas, as diferenças tendem a agregar ao casal – e não provocar rupturas ou desentendimentos. No entanto, se esses dois opostos que se atraíram estão em constante conflito e sofrimento, vale a pena que cada um deles resgate sua própria história e busque a origem dos comportamentos que lhes causam tristeza.
Por que o autoconhecimento ajuda casais?
Como disse agora há pouco, pensar, acreditar e se comportar de forma diferente pode ser muito positivo para um casal, desde que ambos sejam capazes de compreender e respeitar essas diferenças. E isso só é possível se cada um tiver consciência sobre si mesmo.
Quando você sabe quem é, como é, reconhece e respeita sua própria história e trajetória, torna-se líder de si mesmo e assume a responsabilidade tanto pelos seus acertos, quanto pelos seus erros. Você passa a compreender qual sua parcela de responsabilidade nos fatores que provocam desentendimento e, se assim quiser, consegue transformar sua forma de agir positivamente.
Reitero também que, na minha visão, estamos todos buscando a felicidade na vida, inclusive na vida amorosa. Todos queremos dar e receber amor, mas temos feito isso de fora para dentro, e esse sim é o grande erro! Se eu não entrego primeiro a mim mesma, se não tenho afinidade comigo mesma, com a pessoa que me tornei, como poderei fazer pelo outro?
Conquistar afinidade consigo leva ao amor-próprio, e isso é adquirido com autoconhecimento. A partir da autoconsciência, você tem a oportunidade de modificar os padrões que lhe impedem de ser feliz. Em outras palavras, se você sabe como e quem você é, e de que forma chegou até aqui, tem a chance de identificar quais são os aspectos que realmente lhe importam e quais só trazem aborrecimento, dor ou tristeza.
Quais padrões de comportamento você tem mantido e quais são as consequências desses padrões? Como você pode modificá-los para melhor? Nesses questionamentos, você encontrará as respostas que lhe faltam para alcançar a felicidade. Quanto mais conhecer a si mesmo(a), mais canais abrirá para que possa se relacionar muito melhor com o outro.
Construindo afinidades
As afinidades são importantes num relacionamento, mas nem sempre surgem logo “de cara”. Quando existe abertura, atenção e dedicação por parte de ambos os envolvidos, a convivência faz surgir uma série de outras afinidades que, num primeiro momento, não existiam. Escolher caminhar ao lado de alguém significa também fazer concessões, sem abrir mão de quem se é. E isso, novamente, só é possível quando se assume a responsabilidade pela própria vida.
Dito isso, é claro que é possível conviver e amar alguém que é muito diferente. Ou seja, claro que é possível se atrair por um oposto, desde que ambos estejam dispostos a negociar, a ceder e conceder, e renegociar.
A chave aqui não é exatamente quanto se é parecido ou quanto se é diferente do parceiro, mas, sim, como é que se lida com os eventuais conflitos, quaisquer que eles sejam. Sempre digo que, quando o olhar fica no outro, seja na expectativa ou na avaliação sobre o que pensam sobre nós, em geral, surgem problemas de comunicação: entramos na autocrítica ou na própria defesa. Estamos imersos em relações que validam nosso modo de ser, agir, sentir e pensar, e isso explica por que é tão comum preocupar-se com o que os outros vão achar.
Todos buscamos amor, aceitação e reconhecimento nas relações e nem sempre o desfecho é este. Quando somos criticados, mal-interpretados ou não ouvidos, sentimo-nos impotentes e frustrados e, muitas vezes, devolvemos na mesma moeda. Assim, perpetua-se o problema.
Mudar esse ciclo requer trazer primeiro o olhar e a responsabilidade para si. Suas ações, palavras e gestos são comandadas por você, não pelo que vem de fora. Você, com ciência de suas escolhas, reconhecendo suas falhas para mudar, seguro de si e de seus valores. É sempre bom lembrar que as pessoas ao nosso redor, justamente essas com as quais mais nos preocupamos, são as que melhor sinalizam aquilo em que precisamos melhorar.
Desistir, às vezes, é preciso
Todos os relacionamentos, inclusive aqueles que pareciam repletos de afinidades, estão sujeitos a fases ruins e eventuais términos. Então, se sua pergunta, na verdade, é como desistir de uma relação que já lhe causou muitos danos, minha dica é: olhar-se com honestidade e sem julgamentos ou autocrítica excessiva é sempre o melhor caminho nessas situações.
Quando uma relação acaba, seja lá qual for a razão, cabe às pessoas nela envolvidas reconhecer as próprias emoções, negativas e positivas, bem como comportamentos, negativos e positivos. Vale a pena perceber que, nessa hora, muitos tendem a atribuir ao outro a responsabilidade pelo o que não deu certo.
Porém, antes de apontar as falhas alheias, é preciso identificar os próprios erros. E, como citei antes, isso só é possível a partir do autoconhecimento. É preciso resgatar a sua própria história para que consiga descobrir quais das suas escolhas têm trazido consequências positivas e quais deixam a desejar.
Da mesma forma, é necessário identificar onde, como e com quem aprendeu esses comportamentos cujos resultados têm sido pouco positivos, para que possa desaprendê-los e iniciar novos comportamentos. Quando tem essa consciência, você se torna apto a perdoar a si mesmo(a) e ao outro pelo o que não deu certo, o que também é essencial para que possa lidar com o fim de um relacionamento de forma menos dolorosa e mais positiva. Isso é autoconhecimento, ou seja: questionar a si mesmo para descobrir a si mesmo e, então, poder se reinventar da forma como se preferir.
Espero ter lhe ajudado! Volto a escrever em breve.