Incluindo ou excluindo? Construindo ou destruindo? Ah, as palavras…
Somos formados por elas. Sim, somos relato, poesia ou prosa desde antes de sermos quem somos. Aliás, o que nos torna este ser de hoje é o que foi dito, pensado, sonhado ou calado a nosso respeito ontem.
Dizem que somos diferentes dos animais por conta da linguagem. Incrível! Então é ela que traduz, muitas vezes, em palavras o caminho difícil e belo da evolução humana. Digo humana, pois os animais continuam sendo os mesmos há séculos (ou serão milênios?). Eles evoluem na forma, miscigenam as raças, mas o cachorro continua se comunicando com o seu antigo “au au”, com sua mesma linguagem.
Mas nós, os homens, desde os “grunhidos” dos tempos das cavernas até os dias de hoje, fomos nos enchendo de palavras e, através delas, crescendo. Fomos nos conhecendo e conhecendo o mundo e, é claro, ficando petulantes. Com essas nossas próprias palavras começamos a explicar. E pode parecer empáfia, ou poderia dizer, mentira, que nós, humanos, começamos a explicar o inexplicável.
É aí que eu quero chegar com todas essas palavras: na inexplicável beleza das diferenças!!!
Esse é o fantástico mundo da linguagem, que vai nos distanciando a cada momento do mundo animal, pois é esse atributo humano que nos torna seres iguais e, ao mesmo tempo, tão diferentes e únicos.
Enquanto seres humanos que somos, nada nos diferencia, pois em todos os lugares, desde os povos não civilizados que existem atualmente, até os modelos de perfeição de beleza e estética humana, somos iguais. Mas, conforme nossa linguagem evolui; caminham, nesse mesmo sentido, as nossas diferenças. E, quanto mais palavras criamos para definir, compreender, estudar… Mais diferente ficamos. Porém, o que nos seduz e o que tem sido nossa busca constante é a igualdade, é o ser comum. Nosso maior desejo é o pertencimento, isto é, ter a sensação de pertencer a alguém ou a algum grupo por semelhança.
Para continuar com as palavras é preciso dizer que o sonho da igualdade e a necessidade de parecer semelhante e fazer parte conflitua o tempo todo com as nossas diferenças. Então, concluo que são exatamente as palavras (linguagem traduzida) que nos torna seres semelhantes e, paradoxalmente, são exatamente elas que nos diferenciam. Entre o medo e a busca, estabelecemos padrões de igualdade e ignoramos as diferenças. Assim, usamos as palavras para nos dar conforto e, também, para nos separar, nos dividir, nos classificar, rotular e nos tirar aquilo que é o nosso diferencial e nossa melhor qualidade, a humanidade.
As palavras não são boas nem más, elas são o que fazemos delas. Elas criam o nosso relato e nos tornam escravos dele. Muitas vezes, os relatos são de incapacidade, desvalorização e não merecimento. Claro que, na medida em que evoluímos, podemos desconstruir nossa auto-imagem criada pelas palavras ditas ou ocultas, e começar a usar a linguagem a nosso favor. Podemos fazer o grande milagre da mudança, que, por vezes, parece impossível, mas que temos presenciado cada vez mais nas pessoas que entenderam porque se tornaram as pessoas que se tornaram graças ao que foi dito delas, para elas e por elas, e, principalmente, graças àquilo que elas aprenderam a dizer de si mesmas.
Na medida em que o ser humano der uma chance a si próprio de questionar suas próprias respostas, refletir sobre sua construção como ser e se interessar em participar responsável e ativamente na sua própria elaboração, o uso das palavras será mais criterioso e sábio.
Neste ponto, quero falar sobre a palavra escrita. O texto escrito, seja lá em que formato, é o acumulo de pensamentos, pesquisas, reflexões e mostra de descobertas traduzidas em palavras que se transformam em histórias, as quais se propõem a trazer novos pensamentos, pesquisas, reflexões e descobertas. A palavra escrita é a evolução da linguagem humana. E, ela tem um serviço a prestar que, para mim, é o serviço de unir as diferenças, sem descaracterizá-las, numa igualdade. Isso exige critério e responsabilidade, pois a partir do relato escrito podemos construir ou destruir a história de um homem, de um povo e da humanidade. Pensando assim, nós deveremos adotar medidas de escolha do que ler ou não e, principalmente, ler e avaliar com os nossos próprios valores se o que foi lido nos traz algum proveito.
Podemos, através do Autoconhecimento, sair da diferença que assusta e causa paralisia para entender melhor que palavras são uma parte da linguagem, pois considerar que a palavra escrita é o todo é, novamente, desvalorizar o humano. E, outra vez, deparo-me com o paradoxal, porque foi exatamente através do livro que eu pude entender que as palavras têm a sua função na nossa construção, mas só a linguagem pode dar significado profundo para o que está por trás delas (palavras) que são os sentimentos. Se for a linguagem que nos diferencia dos animais, posso entender que é ela que nos leva do instinto ao sentimento.
Quero lhe perguntar: Você sabe nomear os seus sentimentos e reconhecê-los nas palavras que tem ouvido? Lido? Assistido? As palavras são mágicas. Você reconhece o seu valor ou acredita que o vento as leve? O que você tem dito, escrito ou mostrado com a sua capacidade de comunicar, através da linguagem? Os seus desejos, sonhos, esperanças, frustrações, raiva, temores e amor às pessoas?
Palavras… Saem tão facilmente de nós! Será que estamos sendo responsáveis com o uso da característica básica e fundamental da nossa humanidade? Com as nossas palavras estamos unindo ou desunindo, incluindo ou excluindo, construindo ou destruindo? A linguagem é o nosso grande trunfo na evolução. É com ela que podemos unir o diferente e permitir que seja diferente, pois aí está o belo e o humano. A palavra pode começar a nos descrever como seres únicos, diferentes, maravilhosamente belos e pertencentes a um todo que soma e multiplica a diversidade e, ao mesmo tempo, une e se fortalece com as desigualdades.
Palavras… como você as está usando? O quê você está fazendo com elas? O que elas estão fazendo com você?