Você se considera uma pessoa medrosa?
Se sim (ou se não), quais são seus maiores temores na vida?
Quais pensamentos ou possibilidades fazem com que se sinta imediatamente acuado(a), como se estivesse em risco?
Bem, hoje quero falar sobre o medo, uma emoção que todos nós – sim, repito, absolutamente TODOS nós – compartilhamos. A verdade é que o medo existe por uma boa razão: esse sentimento serve de alerta e de gatilho para que possamos nos proteger de perigos iminentes, como a possibilidade de um assalto ou de ser atacado por um animal, por exemplo.
Mas, na vida emocional propriamente dita, o medo quase sempre faz pouco sentido. É claro que devemos nos proteger de pessoas que possam nos machucar ou nos fazer sofrer. Mas a verdade é que não temos nenhum controle sobre o comportamento alheio, então, esse medo especificamente – do que o outro pode ou vai nos causar – só causa angústia e ansiedade, ou seja… Sofrimento!
Em outras palavras, no aspecto emocional, o medo quase sempre está direcionado para fora. Nós não tememos sofrer, mas, sim, tememos que o outro nos cause sofrimento. O nosso grande pavor é que o comportamento alheio faça com que nos sintamos abandonados, rejeitados, inúteis, injustiçados, humilhados e traídos. Em suma, não-amados.
Segundo a Síndrome do Amor Negativo, que é a base da metodologia Hoffman, esses medos todos tiveram origem na nossa infância. Foi lá, com nossos pais e/ou cuidadores, que experimentamos pela primeira vez a sensação de não sermos amados incondicionalmente (como queríamos, buscávamos e esperávamos). E, em decorrência desse “não-amor”, fizemos uma espécie de promessa infantil para nunca mais nos vermos naquela situação.
Resultado: muitas vezes sem saber, crescemos e desenvolvemos comportamentos os quais acreditamos que servem justamente para isso, ou seja, para fazer valer a nossa promessa de impedir que qualquer outra pessoa nos magoe dessa forma. E não percebemos que, na verdade, esse mecanismo de proteção só causa ainda mais dor.
Então, que tal falarmos sobre cada um desses medos?
a verdade é que não temos nenhum controle sobre o comportamento alheio, então, esse medo especificamente – do que o outro pode ou vai nos causar – só causa angústia e ansiedade, ou seja... Sofrimento!
Esses medos são muito comuns e muito similares. Diria até que estão por detrás de todos os grandes problemas emocionais que enfrentamos na fase adulta, inclusive a depressão e a ansiedade.
Na infância, todos nós, em algum momento, nos sentimos profundamente abandonados, rejeitados e traídos por nossos pais e/ou cuidadores. Nós queríamos receber amor incondicional, mas, em vez disso, fomos repreendidos, reprimidos, castigados e, em alguns casos, de fato abandonados e rejeitados.
Como disse, quando isso acontece com uma criança, ela instala, em si, a promessa de que nunca mais ninguém vai fazer com que ela se sinta daquela maneira – ou seja, que fará o que for preciso para nunca mais se sentir não-amada. Ela leva essa promessa para a vida adulta e desenvolve comportamentos para validá-la.
Então, pense comigo, o que faz uma pessoa que não quer se sentir abandonada, rejeitada ou traída de maneira alguma? Abandona, rejeita e trai primeiro? Evita se envolver em qualquer relacionamento? Faz o que pode e o que não pode para se impor sobre o outro? Desenvolve um perfil superdesconfiado e controlador?
Enfim, existem mil comportamentos possíveis a serem usados inconscientemente por quem tem medo de ser rejeitado e/ou abandonado; mas, enquanto eles forem inconscientes, posso garantir que nenhum deles trará resultados positivos. Se esse é seu caso, que tal, então, ganhar mais consciência de si?
Essa tem sido uma das queixas mais comuns apresentadas pelos alunos mais jovens do Processo Hoffman. Muitos contam que foram criados em ‘berço de ouro’, supermimados, e que sempre tiveram todas as vontades atendidas. Os pais que lhes proporcionaram essa infância o fizeram na melhor das intenções (aliás, frequentemente, como uma maneira de compensar o que eles próprios não tiveram na infância). Mas, criaram, assim, jovens adultos que são incapazes de lidar com negativas, com frustrações ou com obstáculos – e que, por isso, sentem-se absolutamente inúteis.
Há, também, um outro tipo de comportamento decorrente dessa infância: os adultos que, por se acreditarem absolutamente incapazes, fazem o que for preciso para obter o reconhecimento às suas habilidades e competências. Mas, novamente, em ambos os casos, esses adultos apresentam tais comportamentos de maneira inconsciente. Portanto, só obtêm resultados negativos.
As injustiças e humilhações infantis são frequentemente as maiores desencadeadoras do círculo vicioso da vingança, como conto no meu livro “Perdão, A Revolução que Falta”. É algo que carregamos para a vida adulta sem perceber e que nos leva a distribuir punições e penas a nós mesmos e aos outros, também sem que possamos nos dar conta.
O pior é que o fazemos baseados nos nossos próprios paradigmas do que é certo ou errado, ou seja, a partir do nosso conjunto de crenças pessoais é que entramos no círculo vicioso de vingança.
Funciona mais ou menos assim: eu me sinto injustiçada ou humilhada e, portanto, a culpa é do outro (como era também na minha infância); porque o outro fez com que eu me sentisse assim, eu devolvo na mesma moeda e trato de humilhá-lo; mas, claro, quando percebo o quanto o feri, eu me sinto culpada. E, claro, quem tem culpa precisa ser punido, então, eu mesma me castigo pelo o que fiz, mesmo que não tivesse a intenção de fazê-lo. Eu só fiz porque o outro me colocou naquela situação…
Hm, então, a culpa sempre foi dele! E, assim, o círculo gira. Portanto, enquanto eu não tiver consciência de que estou sempre procurando culpados (e de que o faço desde a minha infância), ficará muito difícil lidar com eventuais injustiças ou humilhações. Até porque, se me sinto injustiçada ou humilhada, isso diz muito mais a meu respeito do que a respeito do outro; eu só saberei como superar esse sentimento se souber exatamente por que é que ele me causa tanto medo.
Autoconsciência: a arma mais poderosa contra todos os medos
Como disse no início, o medo é um sentimento comum, inevitável e, em muitos casos, necessário. Mas, em contrapartida, há diversas situações em que nossos temores mais íntimos só nos fazem mal e nos tiram do caminho da felicidade. Neste artigo, o meu convite é para que você reflita sobre seus medos e que pense no que eles têm lhe causado.
Aliás, deixe-me contar a experiência de uma aluna que chegou ao Processo Hoffman certa vez com um problemão: estava profundamente machucada pelas constantes traições do marido. Conforme os dias foram passando, essa moça se deu conta de algo inacreditável… A verdade é que, factualmente, não tinha nenhuma única prova ou evidência de que havia sido traída; a convicção de que o marido poderia estar num relacionamento extraconjugal era sua, apenas sua.
Porque tinha muito medo da traição, essa moça criou, para si, a certeza de que era vítima de seu maior temor. E sofreu, de fato, como se tivesse sido traída. A minha pergunta é: será que você não vive algo parecido em relação ao seu próprio medo?
Bem, a resposta depende apenas de você e da sua capacidade de se olhar por inteiro, sem julgamentos. Mais uma vez, a autoconsciência é a solução: quando souber melhor a seu próprio respeito, quando for honesto(a) sobre sua trajetória e seu passado, poderá implementar mudanças no presente que tragam melhores resultados no futuro.
Um passo de cada vez.
Prática, persistência e dedicação.
E boa jornada para o seu interior!